(björk)
I live by the ocean
and during the night
underneath all currents
and this is where I'm staying
this is my home.
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Quando penso "meu deus, obrigada por esta vida que me destes" um sentimento de culpa é analógico ao meu contentamento. Meu mal-estar nesta civilização de merda me dignifica como pessoa, como "sujeito" desse cenário torto de desordem e indefinições. Estão os conceitos ultrapassados, porque mal resistem à passagem de tempo algum. O que é hoje pode não ser daqui a poucas horas e todos vão ensaiando suas capacidades de serem blasés, como que observando um belo jardim florido na saleta de espera de um consultório psiquiátrico qualquer. É este o mundo em que vivemos e que nos foi construído, a contragosto da sorte, com concreto de segunda linha. E é o resultado de construções futuras que, pelas previsões mais otimistas, tendem a desmoronar feito castelo de areia atingido pela onda. E que onda, quando penso que minha vida é ótima sinto que deveria estar sofrendo de alguma forma, para estar sendo compensada pelas benesses que a vida me traz. E nesse ciclo infinito de culpabilidade-remorso-enigma vamos passando concreto em tudo, nas árvores, nos bancos de madeira das praças, no céu da cidade, nos nossos ideais.
Quando é manhã, quando ainda é possível sentir a brisa fresca dos bocejos preguiçosos do dia, abro o jornal, sento-me em uma das cadeiras do quintal, leio as notícias, me isolo mais ainda da realidade. Discorro pelos fatos rotineiros e pelos fatos absurdos da cidade grande como quem também aprecia o tal jardim. A realidade está lá, ali, aqui, e não participo, apenas observo. Estou fora do planeta, fora das notícias vorazes da falida economia capitalista-patética, fora da política garbosa e melequenta, estou out das festinhas badaladas do hype. Sabe por quê? Porque não suporto mais ter de lidar com essa culpa que todos carregamos, carimbadas em nossas bundas pelos tapinhas do médico que provoca o choro, essa culpa devassa que se arreganha em dentes ferozes para nós e nos fazem, de fato, chorar. A culpa pela obrigação de ter que consertar aquilo que não fomos nós quem estragamos, a culpa pela obrigação por termos que ser o futuro, o máximo, o sucesso, o esperado, "o", "o", "o"... lamentável. Mas nada que atrapalhe os pequenos prazeres da vida de cada ser humano, como o jornal pela manhã debaixo do sol e da brisa fresca que corre louca pela casa - longe de mim achar que não sou merecedora disso e de outros bel-prazeres do dia-a-dia, pois sei bem que isso terá um fim, pela obrigação de ser uma cidadã, filha, estudante, profissional, mulher, ser votante, contribuinte..
De qualquer forma, amanhã o jornal estará lá, o sol, o céu, a brisa. Eu estarei lendo, observando, pensando, digerindo o mundo, as notícias, essa nossa apatia inata. Eis a (pós)modernidade.
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Refiro-me a este senhor que muito pensou à frente da modernidade de sua época para formular as mais preciosas considerações a respeito do ser humano e sua maneira incrível de atuar no mundo